sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

O RIO DO FAUSTINO

O Faustino era um colega legal, um pouco lento, de cara sonolenta, falava devagar e tinha dificuldades de se locomover devido ao peso além da medida, sofria de um mal muito comum na fase infantil e, também, na, senil, mal este que dava uma trabalheira danada aos seus pais, cientes do que ele sofria. 
Pois bem, eu, o Faustino e os demais companheiros éramos os seminaristas mais novos e, devido à isso, dormíamos no dormitório dos menores. Naquela época, o seminário tinha dois dormitórios, o dos menores (quinta e sexta séries) e o dos maiores (sétima e oitava séries).
Durante o dia, o Faustino era igual a todos, a diferença se fazia à noite, melhor dizendo, na madrugada, tanto assim que, por culpa dele,  a geografia do dormitório mudava completamente no dia seguinte. Digo culpa, porque quando acordávamos, tínhamos um obstáculo que não existia na noite anterior. Você, caro ex-seminarista, deve estar me perguntando:
- Afinal, que obstáculo é este que o Faustino criava?
Já vou logo lhe colocar a par, todavia, gosto de fazer um pouco de suspense, do contrário perde a graça. Então, vamos lá: o nosso colega, Faustino, sofria de incontinência noturna, ou seja, urinava muito enquanto dormia, era quase sempre. Sua cama ficava na metade do dormitório, num local oposto à porta que dava para o vasto corredor do seminário. Deste modo, no dia que a topografia do quarto mudava, um rio nascia debaixo da cama dele, atravessava todo o espaço que tinha pela frente e desaguava justamente no corredor, da nascente à foz era urina pra ninguém botar defeito e o cheiro?, este se espalhava pelo recinto tornando-o insuportável e, eu, mais os meus colegas que ficávamos na margem oposta à do banheiro, tínhamos que pular o rio do Faustino para escovar os dentes e etc...
O nosso Reitor, Pe. Antonio, sabia do problema do Faustino, e, devido a isso, nunca ficou zangado com ele, tanto assim que, certa vez, meio sorridente, o que não lhe era comum, fez uma reclamação que não deu pra ninguém, inclusive o próprio Faustino, segurar o riso:
- É, hoje, o Faustino foi além da conta, conseguiu, até, molhar os meus sapatos.

Anibal Werneck de Freitas.

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ORATIO AD SANCTO EXPEDITO