segunda-feira, 27 de outubro de 2014

BRASILEIROS, NORDESTINOS... INESQUECÍVEIS! [Martinho Condini]

 Atualmente temos uma significativa ausência de lideranças em nosso país. Quem são as nossas lideranças, hoje? Quem são os modelos para os nossos jovens? Como eu, acredito que você também tenha dificuldades para responder a essas perguntas. Há ausência de lideranças no atual momento histórico brasileiro me levou à lembrança e saudades de dois protagonistas da nossa história recente. Ambos nordestinos, um cearense e um pernambucano, contemporâneos do século passado, sempre tiveram os pobres, pequeninos ou oprimidos, os elementos geradores da construção dos seus pensamentos e práticas ao longo do século XX.
Após a infância e a adolescência, ambos tiveram rumos profissionais diferentes: um tornou-se religioso, o outro, após a formação em Direito, enveredou para a área educacional como professor de língua portuguesa e, posteriormente, tornou-se também um educador.
No início do Governo Militar, ambos viviam na cidade de Recife. Um recém-chegado, transferido da cidade do Rio de Janeiro o outro vivia em sua cidade natal. Em 1964, um deles foi preso e exilado, retornando ao Brasil apenas em 1980. No exílio, produziu todo o arcabouço daquilo que mais tarde veio a ser considerado uma filosofia e um método educacional. E somado a uma experiência de alfabetização de adultos, produziu uma obra que norteou o seu trabalho como educador, a Pedagogia do oprimido, escrita no exílio.
O outro, arcebispo de Olinda e Recife, idealizador e fundador da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, tornou-se uma liderança da Igreja católica, permaneceu no Brasil durante todo o governo militar, mas sofreu intensa perseguição e censura dos militares e da ala conservadora da igreja, sendo impedido por quatro vezes de receber o prêmio Nobel da Paz e foi calado por quase uma década. As perseguições a ambos fizeram com que suas vozes e ideias ecoassem Brasil a fora, e os mesmos ficassem conhecidos mundialmente.
É inegável que ambos tiveram intensa influência na formação do pensamento educacional e social brasileiro. Realizaram trabalhos que contribuíram no meio intelectual, como também nas camadas populares da sociedade. Eles sempre tiveram a coragem de enfrentar desafios e propor mudanças para a melhoria das condições de vida das camadas sociais excluídas e descriminadas do nosso país. A defesa e o cumprimento aos direitos humanos foi uma bandeira carregada diuturnamente, por esses dois incansáveis humanistas. E reconheceram na educação um dos principais elementos para as pessoas realizarem as transformações sociais e a conquista da tão sonhada libertação.
Enfim, apesar da distância física de ambos, sempre estiveram juntos na esperança de que era possível construir uma sociedade mais justa, digna e fraterna para todos.
Caros Dom Helder Camara e Paulo Freire, vocês estarão sempre em minha lembrança.

*Martinho Condini, mestre em Ciências da Religião e doutor em Educação, pela PUCSP. É professor na rede privada no ensino superior nas cidades de Osasco e São Paulo. Apresenta na rádio 9 de Julho de São Paulo o programa ‘Aumenta o volume que lá vem história’. Publicou pela Paulus os livros Dom Helder Camara um modelo de esperança (2008); Helder Camara, um nordestino cidadão do mundo (2011) em parceria com Ilvana Bulla e o DVD Educar para a
liberdade Dom Helder Camara e Paulo Freire (2011). Membro do Grupo de Estudos de

Comércio Exterior e Relações Internacionais do Unifieo - GECEU.

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