terça-feira, 4 de novembro de 2014

"A ELITE BRASILEIRA NÃO ACEITA A INCLUSÃO SOCIAL, TOLERA!” [Martinho Condini]

Artigo enviado por Antônio Carlos Roxo da Motta:

"A ELITE BRASILEIRA NÃO ACEITA A INCLUSÃO SOCIAL, TOLERA!”

[Martinho Condini]

Apesar da Casa-Grande de Gilberto Freire ter sido construída em 1933, ela continua com seus alicerces firmes, principalmente no sudeste e sul do nosso Brasil. As vésperas da abolição da escravatura, muitas pessoas não se conformavam com a possibilidade dos negros escravos ficarem livres e poderem viver como todos os outros brasileiros brancos.
Era difícil para a elite brasileira entender que todo ser humano tem o direito de ser livre,
constituir sua família, ter sua moradia (e não a senzala), trabalhar como um cidadão livre e cumprir com seus deveres e desfrutar dos seus direitos sociais.
Mas mesmo assim, a sociedade escravagista brasileira resistiu até onde pode para a manutenção da escravidão (foram mais de trezentos anos), fomos o último país da América a libertar os escravos.
A história nos mostra que a resistência incansável dos negros, desde o século XVI e o movimento abolicionista a partir do século XIX, conquistaram esse direito a liberdade.
A elite escravagista brasileira para desqualificar todo o processo de luta, estabeleceu que a influência britânica devido aos interesses econômicos e a consciência social e política da princesa Isabel (filha de Dom Pedro II) foram aspectos mais preponderantes para o fim da escravidão no Brasil.
Por muitos anos esse foi o entendimento do processo de libertação dos escravos passado a gerações de brasileiros em nossos bancos escolares. Após 126 anos da abolição da escravatura e muita lutas das classes populares, temos um Brasil livre e democrático, mas com problemas sociais ainda presentes em nossa sociedade.
Mas é verdade que algumas políticas sociais adotadas nos últimos doze anos, fizeram com que classes sociais brasileiras que viviam em condições sub-humanas tivessem mudanças
significativas em suas vidas. Estas pessoas não foram beneficiadas pela assinatura de uma lei que os libertassem da escravidão, mas sim, por processo político voltado para as classes sociais discriminadas e excluídas do nosso país.  As políticas públicas adotas nestes últimos anos possibilitou a milhares de brasileiros resgatar a sua dignidade e a sua cidadania. Sabemos que milhares de famílias, jovens e adultos, se beneficiaram com a criação do ‘Bolsa-Família’, para sair da condição de miseráveis; a criação do projeto ‘Minha Casa Minha Vida’, para realizar o sonho da casa própria e dos projetos Porém, guardada as devidas proporções devido às diferenças de épocas da nossa história, continuamos a ter em nossa sociedade uma visão de que o acesso as boas condições de vida é apenas para uma minoria, uma elite que tem profundas dificuldades para enxergar com bom olhos a ascensão das classes excluídas da
sociedade.
E quantas vezes ouvimos (até mesmo em sala de professores) o ‘educador’ dizer assim: “o que esse aluno da periferia vem fazer na universidade, ele não tem cultura”; ou “precisaria separar a parte boa do país (Sul e Sudeste) da parte ruim (Norte e nordeste)”.
Então, deixo uma pergunta para reflexão, como discutir bolsa família, política de cotas sociais ou raciais ou políticas educacionais para o acesso as universidades, num país em que o modo de produção escravista foi o mais extenso de sua história de quinhentos e quatorze anos?


*Martinho Condini, mestre em Ciências da Religião e doutor em Educação, pela PUCSP. É professor na rede privada no ensino superior nas cidades de Osasco e São Paulo. Apresenta na rádio 9 de Julho de São Paulo o programa ‘Aumenta o volume que lá vem história’. Publicou pela Paulus os livros Dom Helder Camara um modelo de esperança (2008); Helder Camara, um nordestino cidadão do mundo (2011) em parceria com Ilvana Bulla e o DVD Educar para a liberdade Dom Helder Camara e Paulo Freire (2011). Fundamentos para uma educação libertadora Dom Helder Camara e Paulo Freire (2014) Membro do Grupo de Estudos de Comércio Exterior e Relações Internacionais do Unifieo - GECEU.

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