terça-feira, 16 de abril de 2013

Dilma piscou? (tréplica) [Antônio Carlos Roxo]

A prezada professora Sandra Petroncare , aqui neste espaço, não apontou
que a relação Dívida/PIB resulta da contínua sangria das contas públicas
em decorrência da política perversa de juros nas alturas, com o pretexto
de combater a inflação. O Brasil tem poupado quantias astronômicas
para pagar o serviço da dívida pública (em 2012 R$ 104,951 bilhões), mas
como a dívida é enorme, nem com toda a poupança feita se consegue
evitar que a dívida aumente (em 2012 mais R$ 141 bilhões, atingindo R$2
trilhões).
A ação orquestrada leva a que situações que não deveriam acontecer
passem, qual passe de mágica, a dominar o comportamento dos agentes
econômicos. O mantra de que os juros devem crescer para enfrentar com
sucesso a hidra da inflação tem tomado a cena, com o capital financeiro
agradecido.
As ações da ortodoxia, como a desregulamentação acelerada, fez o mundo
perder o rumo, entretanto esta mesma ortodoxia ainda quer pautar
o debate. A política de austeridade na Europa tem sido um fracasso,
pois os países em crise em decorrência da política restritiva aumentam
seu sofrimento com a debacle que segue à política ortodoxa, ficando
a dívida cada vez mais “impagável”. No governo Obama os Estados
Unidos têm feito o contrário e, embora todos os empecilhos colocados
pelo conservadorismo, se recupera. A política de “entupir” o mercado
americano de dólares (quantitative easing) surte efeito, desvalorizando o
dólar e recuperando suas exportações.
No Brasil, que patina em crescimento pífio, os interesses contrariados
dos grandes capitais rentistas (os que vivem de renda) fazem coro para
que se volte para o passado, e o país que votou na Dilma com expectativa
e compromisso de romper com a ortodoxia monetarista, vê perplexo,
ameaças de recuo.
Evidente que há setores interessados na valorização, os importadores e
quem vai comprar quinquilharias, até porque com o excesso de produção
industrial o mundo desenvolvido escoa sua produção a baixo preço, mas
garante os seus bons empregos. O efeito multiplicador da indústria, em
termos de produtividade, de encadeamento, de valor agregado, é grande.
A pauta de exportação do país, após todos esses anos de ortodoxia,
empobrece a olhos vistos. Enquanto o superávit da balança comercial
“embica para baixo” o déficit em transações correntes se agiganta. É
muito fácil viver uns tempos na ilusão, no consumismo desenfreado, mas
mais cedo ou mais tarde o preço será cobrado.
O grande problema de mudar paradigmas são os interesses contrariados
que devem ser enfrentados. Os gargalos estruturais do país, que
se configuram na política de juros nas alturas e taxa de câmbio
supervalorizada, além da infraestrutura, logística e, sobretudo, as imensas
desigualdades de riqueza e de oportunidades, têm que ser superados.
Enfim, se antes comprávamos o balde “made in China” na lojinha de
noventa e nove centavos, agora ela nos vende o carro e máquinas ultra
sofisticadas, e nós continuamos a nos especializar em vender minério de
ferro e soja. Quem é o sabido?

*Antônio Carlos Roxo é coordenador do Curso de Comércio Exterior e Negócios Internacionais e membro fundador do Grupo de Estudos de Comércio Exterior do Unifieo - GECEU. e-mail: roxo@unifieo.br

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