terça-feira, 30 de março de 2021

DE COMO JOÃO LEITE, VIGIA DA IGREJA DAS MERCÊS DE CIMA, EM OURO PRETO, RELATOU A ‘MISSA DOS MORTOS’, VIVENCIADA POR ELE, NUMA MADRUGADA DE FORTE TEMPESTADE.

 


A última vez que estive em Ouro Preto(MG), com a minha esposa, fiz questão de conhecer a famosa Igreja das Mercês de Cima, onde ocorreu a histórica ‘Missa dos Mortos’, infelizmente, ela estava interditada, e assim, me contentei em aproximar da grade que dava pra ver o seu cemitério.
A ‘Missa dos Mortos’ foi contada pelo próprio protagonista, João Leite, o vigia da Igreja das Mercês de Cima, em Ouro Preto, verdade ou não, ela consta nos livros de História, eu mesmo, cheguei a dar aula com esse conteúdo.
Pois bem, o caso da 'Missa dos Mortos' começou com o João Leite, uma pessoa muito querida e conhecida em toda a cidade, um homem simples, miudinho, que estava sempre montado em seu cavalinho branco, e se contentava em viver e receber alguns trocados pra guardar e vigiar os pertences da referida igreja, onde dormia na sacristia, recinto no qual o padre se paramentava pra celebrar a missa.
Sendo assim, tudo começou numa madrugada tempestuosa, com o João Leite dormindo tranquilamente, nem o barulho da chuva o incomodava, tudo corria dentro da normalidade, até que, de repente, acordou ouvindo vozes, vindas da nave central do templo, totalmente iluminada pela luz de velas, obrigando-o assim a se levantar e correr até a porta da sacristia, onde presenciou estarrecido uma estranha missa: “Meu Deus, estou ficando louco, ainda é de madrugada, que gente é essa?" , e esfregando bem os olhos: “Não acredito, o padre é uma cadáver, assim como todos os seus fieis, que estão também de capuz, cobertos por uma túnica branca transparente!” e, desta maneira, aterrorizado com a dantesca visão, tentou voltar pra sacristia, mas se deparou com mais cadáveres, exalando um odor muito estranho, mas suportável, todos vindos pela porta dos fundos, que dava pro cemitério, então, encurralado, sem ter pra onde ir, se misturou a eles, quando um dos seres fantasmagóricos se aproximou e balbuciou no seu ouvido, algo que não entendeu, acontece que justamente nesse momento de horror, um raio partiu uma árvore ao meio, num estrondo ensurdecedor, contribuindo pro seu desfalecimento.
No dia seguinte, de manhãzinha, nosso protagonista foi encontrado sem sentido, todo encharcado, no pátio da igreja.
Quem o encontrou, cuidou muito bem dele, ouviu toda a sua história macabra, e, no dia em que morreu, João Leite chamou o seu companheiro: “Amigo, eu não entendi o que o ser funesto me falou, mas uma coisa eu lhe digo, tenho a certeza de que se tratava da minha morte!”, e, desta forma, deu o seu último suspiro, a árvore, por sua vez, foi encontrada do jeito que ele contou.

NOTA: Existe um registro dessa "Missa dos Mortos", datando que ela ocorreu em meados de 1900, no início do século XX.
FOTO: Igreja das Mercês de Cima, Ouro Preto, Minas Gerais.
anibal werneckfreitas, jf, 31/03/2021.
Pode ser uma imagem de monumento, ao ar livre e texto que diz "Monique Renne"
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quinta-feira, 11 de março de 2021

sempre me lembro da igreja vestida de roxo





sempre me lembro-me da igreja vestida de roxo, da tristeza fria no templo, do calor do sol lá fora, das pessoas entrando, rezando e saindo num silêncio sepulcral, dos mais velhos falando da quaresma, de jesus enfrentando o diabo no deserto, do mundo à mercê das forças do mal, da mula sem cabeça e do lobisomem soltos na noite assombrando a criançada, dos adultos explorando tal situação pra impor respeito, do são josé com o menino deus no colo, da nossa senhora e de todos os santos cobertos de roxo, do mundo que parecia ter parado na minha pequena recreio, dos sinos que não se manifestavam, do padre cuidando só do inadiável, dos 40 dias tristes e ameaçadores que custavam passar, sempre me lembro da igreja vestida de roxo e da vitória de cristo sobre o demônio.

anibal werneck, 11.03.2021

ORATIO AD SANCTO EXPEDITO