sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Justino e a Estranha Procissão que Aumentava de Tamanho.




Justino era um rapaz boa pinta e ia à igreja, só pra paquerar as filhas bonitas dos fazendeiros, até porque ele não acreditava em nada.
Certa feita, numa noite bem escura, Justino entrou atrás de uma procissão, que tinha saído da capelinha de Sto. Antônio com o destino na matriz N. S. da Conceição, que ficava no alto do morro.
Justino observou que as pessoas estavam todas embevecidas pelo forte clima religioso, de modo que, nem pros lados elas olhavam.
Pois é, o trajeto era longo. 
Justino, que estava com a sã consciência, observou que vultos encapuzados, cujos rostos não davam pra ver, iam engordando o cortejo que levava o Senhor Morto, num esquife.
Quando a procissão chegou na Casa de Deus, os fiéis entraram pelas portas da matriz, e aí, Justino, já meio assustado, viu que estes vultos não fizeram o mesmo, melhor dizendo, se dirigiram pelas laterais do lado de fora do templo católico.
Justino estranhou muito o que via e, como era corajoso, resolveu averiguar o que estava realmente sucedendo.
Acontece que nos fundos da igreja tinha um cemitério, coisa muito comum naquela época, e, quando o Justino viu aqueles seres de roupa preta entrando no Campo Santo e sumindo em meio aos túmulos, não aguentou a barra e caiu desfalecido.
No dia seguinte, foi encontrado na porta do cemitério. Voltou a si, contando toda esta história macabra, todavia, ninguém acreditou nele. 
E você, acreditaria? 

Nota, É bom lembrar que estes contos misteriosos estão espalhados por toda a nossa Minas Gerais.

anibal werneckfreitas, em 06/09/2019. 

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

A Torre da Cruz Queimada


Naquela época da escravatura, as terras eram praticamente virgens, na Zona da Mata Mineira. Muitas lutas e guerrilhas ceifaram a vida de pessoas por causa delas. 
Esta história começa com duas famílias rivais brigando por terrenos na bacia do rio Pardo, hoje Piacatuba, distrito de Leopoldina-MG., antigamente conhecida como, Piedade de Leopoldina.
Voltando aos confrontos, estes envolveram, também, feitores e escravos e, por muito tempo, eles perduraram.
E assim, para acabar com as brigas, uma cruz tosca foi colocada como um marco divisor pra ser respeitado, custe o que custar.
Pois bem, pra fazer a cruz, um velho escravo escolheu uma madeira de lei, que se chamava, tapinoã.
Deste modo, a madeira escolhida foi dividida em dois pedaços mal lavrados para fazer a cruz, que era de 6 metros de altura e foi  encravada  no topo dum morro pra ficar bem visível.
Infelizmente, uma das famílias não ficou satisfeita com a divisão e na calada da noite, reuniu seus feitores e escravos para destruir a cruz.
Para derrubá-la, os escravos tentaram em vão tirá-la do solo. Irritado, o fazendeiro mandou então cortá-la a machadada, mas o máximo que ele conseguiu foi amassar o madeiro da cruz.
Muito irado, obrigou os escravos a ajuntar gravetos secos para colocá-los em volta da cruz e depois atear fogo.
Sendo assim uma fogueira imensa surgiu com enormes labaredas, e o calor era tanto, que ninguém conseguia ficar perto.
Foi realmente uma noite sinistra, de longe dava pra ver o fumaceiro subindo ao céu.
Satisfeito, o senhor ordenou a retirada dos feitores e dos escravos, do local em chamas.
No dia seguinte, um escravo voltou bem cedinho ao lugar sinistro, para pegar a foice que tinha esquecido.
Ao chegar no local, quase desmaiou de espanto, quando viu a enorme cruz intacta que, simplesmente chamuscada, tinha ficado com a cor preta.
Os sacrílegos foram todos castigados sem piedade pelas forças divinas. Somente os escravos foram perdoados, porque não tinham ódio no coração e apenas cumpriam ordens, sob a ameaça das chibatadas no tronco.
A notícia deste fato correu mundo, tanto assim que a Torre da Cruz Queimada foi erigida pelo Padre Raymundo N. F. de Araújo, em 1928, no centro de Piacatuba, para receber turistas.

Nota, No último Encontro dos Ex-Seminaristas de Leopoldina-MG., juntamente com o Monsenhor Chamel, nós visitamos a cruz, que além de enorme, fica dentro de uma torre. 

anibal werneckfreitas, em 05/09/2019.

segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Ramiro Santeiro


Em Sto. Antônio do Leite-MG havia um comerciante que vendia imagens de santos e por isso era chamado de Ramiro Santeiro.
Acontece que o Ramiro era um homem inescrupuloso e tinha a mania de enganar seus fregueses vendendo gato por lebre.
Certa feita, apareceu um cliente que queria comprar uma imagem de São Jorge. Ramiro não tinha o São Jorge e no lugar dele trouxe o São Pedro pra não perder a venda.
Quando o comprador viu o São Pedro, reclamou, Mas este não é o São Jorge, cadê o cavalo?
Astutamente, Ramiro respondeu, Você precisa se atualizar, São Jorge vendeu seu cavalo e comprou um carro, olha a chave do veículo na mão dele!
Pois é, através das suas artimanhas sórdidas, Ramiro não perdia uma venda com seus incautos fregueses.
Numa certa manhã, ao acordar, Ramiro tomou o seu café e foi trabalhar. Assim que olhou pra prateleira da sua loja, quase morreu de susto ao ver o ícone de um capeta vermelho no meio das imagens de santos.
Imediatamente pensou em destruir a imagem, mas ficou com medo do dono procurá-la e sendo assim preferiu escondê-la. 
Acontece que ele passou a fazer isso sempre, porque o capeta, misteriosamente, voltava pra prateleira.
Deste modo, esta situação foi deixando o comerciante cada vez mais nervoso e fraco.
Além do mais, suas vendas estavam diminuindo vertiginosamente. As pessoas quando viam o capeta perto do Sto. Antônio se sentiam tão mal que acabavam não comprando nada.
Ramiro já não sabia mais o que fazer. Foi aí que no alto do desespero lembrou da Dona Corina Benzedeira, muito famosa na região. E assim, imediatamente, correu até ela e contou tudo o que estava acontecendo. 
Calmamente, a rezadeira o ouviu e o aconselhou sabiamente, Meu filho, seu caso é muito simples, isto acontece muito com pessoas que fazem mal aos outros, portanto, você deve fazer o bem, custe o que custar, agora, quanto a imagem do Coisa Ruim que você pega todos os dias pra esconder, não faça mais isso não, com o seu contato, ela está sugando pouco a pouco a sua alma.
Sendo assim, Ramiro passou a fazer tudo aquilo que Dona Corina lhe ensinou, mesmo com a venda caindo.
Depois de muitos anos de sacrifícios, mas sempre fazendo o bem,
verdade seja dita, e, numa madrugada muito escura, Ramiro ouviu fortes batidas na porta de sua loja que dava pra rua. 
Ramiro acordou assustado, pegou o lampião e pensando em alguém precisando de abrigo, foi até a porta e a abriu. 
Assim, como num passe de mágica, uma enorme figura encapuzada de preto, não mostrando o rosto, surgiu e vociferou de modo infernal, Vim buscar o que é meu!
Ramiro levou um susto tão grande e caiu desmaiado.
Depois desta terrível madrugada, Ramiro Santeiro prosperou tanto e grande parte do seu dinheiro era doado para entidades que cuidavam de crianças órfãs.

Nota, Enquanto viveu, Ramiro sempre contava esta história para os seus fregueses, mostrando que antes de tudo, devemos ser bons para com os outros.

anibal werneckfreitas, em 02/09/2019.

ORATIO AD SANCTO EXPEDITO