quarta-feira, 29 de setembro de 2021

DE COMO UMA ÁRVORE DITA SAGRADA ASSUSTOU O LUGAREJO DE BREJO DA LUZ NO INTERIOR DAS MINAS GERAIS.

 

A subida íngreme ia até o topo do morro, numa trilha forjada pela gente do lugar, com o mato espesso, que retardava a caminhada até uma única árvore, bem no alto da colina. Era uma árvore pequena e solitária, que quando contrastava com o por do sol, liberava um cenário bíblico, porque os raios da estrela-mor atingiam-na por detrás e se abriam como um leque em volta da sua copa, era, na verdade, um capricho inexplicável da mãe natureza.
Então, o caso aqui envolve essa árvore, que era considerada sagrada. Quando as pessoas se miravam nela, paravam seus afazeres, se ajoelhavam, e rezavam entoando cânticos de louvor. Os mais velhos diziam ser essa árvore uma réplica da do Paraíso, a proibida por Deus, e causadora da expulsão de Adão e Eva do Éden.
"Ontem eu saboreei o fruto dessa árvore sagrada, e constatei um sabor amargo insuportável, todavia, mesmo assim, consegui comer um pouco", confessou Expedito para o Seu Antônio da venda, que lhe servia uma branquinha. "Você tá doido, não faça mais isso não, poderá ser castigado!", censurou-lhe. O Expedito virou a bendita goela abaixo e, "Eu não acredito nessas coisas não, é tudo da cabeça do povo, qualquer dia desses vou acabar com essa palhaçada!". "Deixa disso homem, não brinque com coisa séria, lá de cima Ele vê tudo cá embaixo". "Que nada, até porque Ele não existe...". "Agora você pegou pesado, ainda bem que sou seu amigo, e somos os únicos aqui na venda, mas, por favor, tome cuidado com o que diz, este lugar é por demais carola, se as beatas ouvirem isso, vão bater no ouvido do padre e aí...". "Aí o quê?, eu sou livre, e tenho o direito de pensar o que eu quero, assim como elas pensam que essa árvore é sagrada, eu penso o contrário". Já bastante nervoso, Expedito foi até o passeio da rua, deu uma cuspida, e voltou, "E tem mais, companheiro, vou lá fora de novo, e gritar tudo isso que lhe falei, bem alto, e em bom tom, aproveite e põe mais uma!". Com as mãos trêmulas, seu Antônio pôs outra dose da mardita e, "Não!, amigo, isso eu não vou permitir na frente do meu estabelecimento, assim você vai acabar com o meu negócio, pense direitinho, não faça isso não!, olha, você nem precisa pagar o que já bebeu, mas pelo amor de Deus, não faça isso não!". Expedito olhou nos olhos do suplicante homem e viu que ele estava muito assustado, "Se aquiete, não vou mais fazer isso não, tive uma ideia melhor, amanhã você verá e, por favor, coloque a saideira, já está ficando tarde". Enquanto Expedito virava o copo derradeiro, Seu Antônio o alertou, como se adivinhasse o que estava para acontecer, "Vê se cure dessa bebedeira, pra não fazer nenhuma besteira, o desrespeito para com esta árvore, certamente se transformará numa maldição muito grande pra você, sem falar no nosso lugarejo, que poderá ser varrido do mapa pelas mãos do Senhor". "E você acredita nessas coisas?, este é o grande problema da humanidade, a facilidade de acreditar em coisas absurdas, a crença nessas coisas é simplesmente assustadora, até quando?, é gente que fala em Deus, e não pratica o perdão, faça-me o favor, não quero mais ouvir nada, pra mim chega!". Assim, cambaleando, Expedito pegou um litro da distinta, pagou a conta, e vazou direto pela porta da frente, sumindo na rua deserta, já escura pela noite chegando, ainda dando pra ver a Árvore Sagrada se delineando sob os últimos raios do sol. Por sua vez, Seu Antônio fechou o bar, tomou um banho, jantou, e foi dormir.
Tudo corria nos conformes, todavia, durante a madrugada, o som de um machado perturbou o povoado, pela primeira vez, e, no entanto, ninguém se levantou pra ver o que estava acontecendo.
Enfim, no dia seguinte, Brejo da Luz acordou em polvorosa. A balbúrdia era geral, todo mundo olhava pro morro, e não via mais a Árvore Sagrada. Como loucos, todos correram morro acima pra ver o que tinha acontecido, inclusive o seu Antônio da venda, e, assim, viram o Expedito morto, abraçado no machado junto ao peito, com um sorriso nos lábios, encima do tronco da árvore tombada por ele, certamente, envenenado pela mistura do fruto proibido com a cachaça.
Ao vê-lo deste modo, o silêncio na turba foi sepulcral. "Estão vendo o que acontece com quem desafia Deus?". Gritou um, no meio da multidão, que se aglomerava em volta do cadáver. "Vamos rezar e pedir perdão a Deus pelo que este infeliz fez, e pela gente, também, que não fez nada pra impedi-lo!" Retrucou outro. Segunda a lenda, se isso acontecesse, Brejo da Luz seria varrida do mapa, por isso, todos se ajoelharam, e, temerosos, esperaram pelo pior, ou seja, o aniquilamento total do arraial. Nesse mesmo dia fatídico, uma missa foi rezada em louvor ao Senhor na Capelinha de São Judas Tadeu, e o corpo do Expedito foi velado na igreja, e enterrado logo em seguida. Desta maneira, o pessoal, temeroso, ficou esperando pelo dia seguinte. E pra por mais lenha na fogueira, o padre Orlando no homilia, tinha sentenciado, "Deus não vai perdoar tal afronta, pelo visto, o nosso povoado, Brejo da Luz, não passará de amanhã!".
Com estas palavras apocalípticas, ninguém conseguiu dormir naquela noite. Uma vigília varou madrugada adentro, muitas rezas foram rezadas, e assim, finalmente, o Sol apareceu, todos olharam pro céu, esperando pelo pior, todavia, este estava mais azul, que o de costume, até o canto dos galos parecia mais bonito, os passarinhos saindo das árvores em busca do sustento, faziam uma avoaçada nunca vista igual, a natureza parecia transbordar de alegria e, como era de se esperar, "Deus seja louvado!, Ele nos perdoou!", todos exclamavam em uníssono, e, depois de um bom tempo de louvação, a alegria de não terem perdido a pele sobrepujou à perda da Árvore Sagrada, e tudo voltou ao normal.
Apesar desse dia tão alvissareiro, só uma coisa intrigava a todos, ou seja, a venda do Seu Antônio, que estava com as portas fechadas, logo ele, que tinha o hábito de madrugar no seu ofício. Pois é, acharam bastante estranho, e assim, chamaram o Pedrinho, acostumado a ajudar sempre o comerciante, para averiguar o que tinha ocorrido. O menino entrou pela janela quebrada dos fundos, enquanto que, do lado de fora, todos ansiavam pela sua volta. Minutos depois, retornou dizendo que na casa não tinha ninguém, trazendo nas mãos um bilhete. "Que bilhete é este?", perguntou-lhe o sacerdote, tomando-lhe a missiva de modo brusco, a qual passou a ler pra todo mundo ouvir, "O Expedito tinha razão!". Um silêncio se fez ouvir, mas ninguém entendeu a mensagem lacônica, nem mesmo o padre.

Anibal Werneck de Freitas, 29.09.2021.








NATURA & PESSOAS - Capítulo LIV - Numa Pompilius

 


1. Embora sendo irreligioso, não significa que sou contra religião, 
2. pelo contrário, incentivo até as Pessoas que têm tendência a ela. 
3. Agora, o que não aceito são os religiosos fundamentalistas. 
4. Eu os chamo de pardais, uma espécie de pássaro que é uma verdadeira praga, 
5. prolifera terrivelmente e se for no telhado de sua casa [como já aconteceu comigo] sai de baixo. 
6. Digo isso porque em pouco tempo eles danificam tudo com uma quantidade enorme de ninhos, 
7. isto sem falar nos filhotes defeituosos que são jogados para a morte certa.
8. Pois é, deste modo tudo tem limite, o exagero é realmente algo lastimável. 
9 Portanto, volto a afirmar que respeito todas as religiões e, deste modo, peço que respeite a minha posição de irreligioso.
10. Afinal, somos seres inteligentes e a tolerância é uma das suas principais características.
11. Em tempo, já faz algum tempo que a revista Rolling Stone publicou uma matéria [manchete de capa] assim, O Mercado Das Almas Selvagens, 
12. e como missionários fundamentalistas estão evangelizando os índios brasileiros.
13. Segundo a matéria do fanzine, eles estão destroçando a cultura de Pessoas Livres Na Natura. 
14. É um desrespeito que cabe ao nosso Governo agir contra, sem perda de tempo, 
15. Infelizmente, a coisa está feia, porque de fato, estes pardais vêm solapando, ultimamente, a integridade das Pessoas, de modo geral.

Numa Pompilius, 29.09.2021.

sexta-feira, 24 de setembro de 2021

ACALANTO À JESUS MENINO-DEUS (Letra do Ex-Pe. Mauro de Queiroz - in memoriam/ Música de Anibal Werneck de Freitas)

 Festa pelos 130 anos da Paróquia Menino-Deus de Recreio da Diocese de Leopoldina, MG.

ACALANTO À JESUS MENINO-DEUS

(Mauro de Queiroz e Anibal Werneck)

Jesus veio brincar no Recreio, 

e assim cento e trinta anos já faz.

Não cresceu, ficou sempre menino, 

e assim pequenino, o ensino nos traz.

Ensinou o seu povo a sorrir 

na alegria da fraternidade,

A encontrar um espírito novo, 

e seguir a justiça e a igualdade.

Os tropeiros chegaram cansados, 

tal como os pastores vieram a Belém.

Bem depois esta comunidade 

escutava os sinos e os apitos dos trens.

Hoje tudo o que foi conquistado, 

como oferta nos apresentamos,

Cento e trinta anos é curto demais, 

grande o amor, longa a paz.  

O Recreio cresceu, transformou-se, 

esqueceu a infância e quer recordar.

Vem Jesus, vem brincar novamente, 

perdoa porque te fizemos chorar.

Dorme em paz ó Menino-Jesus, 

com o sonho da libertação.         

Nossa comunidade sempre mais 

viverá em fraterna união.






segunda-feira, 13 de setembro de 2021

DE COMO EU COSTUMO VER OS MORTOS NO MEIO DOS VIVOS, E EU NÃO SOU O ÚNICO.

Nasci em Recreio, MG, e, quando muito criança, meus pais me levavam muito ao Distrito de Conceição da Boa Vista, junto com o meu irmão mais novo, para visitarmos a minha avó, Ana. Pois é, no lugarejo, eu sentia que estava num outro mundo, tudo mudava dentro de mim, tinha a sensação da presença dos mortos, como se quisessem me mostrar a época em que estavam vivos, ou seja, o tempo em que Conceição era uma localidade muito importante na região, no século XIX, e, o mais interessante é que até hoje, eu continuo sentindo a mesma coisa. Acredito que não sou o único, e, só o recreiense nato sabe o âmago do que estou evidenciando. A coisa é tão forte que a última vez que estive em Ouro Preto, captei a mesma coisa, as casas, as pedras das ruas e as igrejas, tudo me mostrando os seus fantasmas. Como prova dos meus sentimentos serem verdadeiros, eu tenho a minha própria música que não me deixa mentir. Voltando a Conceição, não posso deixar de relatar a forte energia, neste sentido, da igreja e do seu cemitério, bem como a da igrejinha na pracinha, onde uma vez, meu pai mandou o Padre Higino celebrar uma missa pelas almas dos meus avós, e, confesso que tive a impressão de muita gente além do normal, na capelinha. Não foi a única vez que tive esta sensação. Certa feita, tocando, num casamento, na igreja da mesma localidade, observei o mesmo fenômeno. O cantor Fábio Jr., numa entrevista disse a mesma coisa mais contundente, "Nos meus shows, eu vejo sempre gente, além dos vivos"


. Acontece que não me assusto com isso, o mundo é como um grande computador, tudo que você deleta, continua nele. Até hoje não consigo esquecer, uma vez, tocando na boate de Pirapetinga, MG, na penumbra, eu vi um homem com mais de 2 metros, parado no meio do salão, como uma coluna do templo, olhando fixamente pra mim, coisa realmente assustadora, mais ainda, quando acenderam as luzes no intervalo, a estatura dos que estavam presentes era mediana. Pois bem, são coisas misteriosas que acredito um dia serem desvendadas pela ciência.

Anibal Werneck, 13.09.2021. 

sábado, 11 de setembro de 2021

NATURA & PESSOAS - Capítulo XLVI - Numa pompilius



1. No alto do morro, as pessoas veem um igreja do século XVIII, e assim, contemplam o passado.

2. Quantas vidas, quantas mortes passaram por ela, do batismo à extrema-unção.

3. As pessoas não sabem se vale a pena viver ou morrer neste mundo tão pisado.

4. Até porque o silêncio é a última resposta da Natura.

5. E as casas antigas, por sua vez, parecem mostrar os seus fantasmas.

6. Por isso mesmo, as pessoas devem respeitar os seus mortos.

7. Por isso mesmo, as pessoas devem inventar o seu mar.

8. Por isso mesmo, as pessoas devem libertar os seus portos.

9. Por isso mesmo, as pessoas devem respirar o seu ar.

10. Por isso mesmo, as pessoas devem lutar pela paz.

11. Por isso mesmo, as pessoas devem buscar uma vida melhor.

12. E, por isso mesmo, as pessoas devem respeitar a Natura.

13. Fazendo o que é certo, a Natura agradece e dá em troca,

14. tudo de bom que as pessoas possam imaginar.

15. É como diz São Francisco de Assis: É dando que se recebe.

Texto: Numa Pompilius.
Vozes: Wanda Ferraz Werneck de Freitas, Ana Luísa Werneck de Freitas e Janine Werneck de Freitas.
Músicas de fundo: 1.  Varredores de Rua (AWF) 

2. Acalanto ao Menino-Deus (AWF e Mauro de Queiroz)
Rádios WEB: radianterecreio.net, recreiominas.net e temposradiante.net/ Marco Antônio Werneck de Freitas.
Acqua: Asdrúbal Barca.
[saber salva] 25.08.2021

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

DE COMO A VÊNUS DE WILLENDORF FOI A IMAGEM DE UM TEMPO EM QUE A MULHER ERA TRATADA COMO UM SER SUPERIOR.

 


O período de conhecimento do Homem foi muito mais significante que o anterior, graças a ele, em algumas partes do globo, surgiu o estágio agrícola. O Homem começou então a plantar e deste modo passou a ter mais tempo pra outras ocupações. Agora ele tinha como confeccionar melhor os seus objetos de caça, tornando-o assim, cada vez mais senhor da natureza. Os homens se transformaram em temíveis caçadores e as mulheres em eficientes coletoras. Antes, elas tinham que buscar o alimento em lugares perigosos e muitas morriam, todavia, isto mudou depois que surgiu o plantio, era mais seguro na coleta. A mulher estava sempre carregando as coisas, ora armas pesadas, ora frutas e tubérculos, os índios brasileiros são assim até hoje. É por isso que o sexo feminino está sempre carregando bolsas. Por exemplo, moro no terceiro andar do prédio de uma rua bem movimentada, e, da minha janela, vejo os transeuntes, e observo que todas as mulheres estão carregando alguma coisa, em contrapartida, os homens estão sempre de mãos vazias. Falando nas mulheres, que hoje são tratadas lastimavelmente como inferiores ao sexo masculino, nos primórdios da humanidade, eram tidas como seres superiores, por terem o poder de dar à luz um outro ser idêntico. A Vênus de Willendorf  é um objeto de arte pré-histórico, mostrando a mulher como uma deusa. Acontece que depois que o homem ficou sabendo que esta magia dependia dele, passou a usar a sua força física como forma de poder. Portanto, apesar de todo o progresso, continuamos os mesmos sapiens de outrora, mas com algumas diferenças causadas pela evolução biológica, como por exemplo, a diminuição dos pelos no corpo, sendo a calvície o maior indício. Como já disse, o homem daqui a mil anos terá outra aparência, tanto por dentro, quanto por fora. Isto é evidente em crianças que já estão nascendo sem o apêndice. Pois é, o problema é que isto leva milhares de anos pra mostrar um resultado significativo.  É claro que nós não vamos ver esta mudança, porque vivemos muito pouco. Na verdade, nada fica parado na natureza, tudo está em um movimento contínuo. O Budismo sabiamente diz, que a água do rio nunca é a mesma.

awf, em 10.09.2021.

ORATIO AD SANCTO EXPEDITO