quarta-feira, 29 de junho de 2022

DE COMO CONSTANTINO E ALGUNS FIEIS PARARAM DE OUVIR UMA VOZ DO ALÉM NA MATRIZ NOSSA SENHORA DA PIEDADE DE PIACATUBA MG.



Constantino era sacristão da Igreja Nossa Senhora da Piedade, badalava com maestria os sinos das torres, deixava sempre a Sacristia impecável, enfim, gostava muito do que fazia, e era sempre elogiado pelo Padre Rafael. Um dia, enquanto trabalhava, ouviu uma voz sussurrando com muita dificuldade: Me tire daqui, me tire daqui... O som vinha de todas as paredes, e a igreja, além de grande, era ornamentada por uma decoração do século XIX. Isto que lhe acontecia não era todos os dias, mas ele percebia que a voz estava ficando cada vez mais aflita. Constantino não contava nada pra ninguém, pois tinha medo de ser taxado como doido, todavia, esta situação começou a incomodá-lo de tal maneira, que ele resolveu contar pro Pe. Rafael: Padre, de vez em quando, eu ouço uma voz bem baixinha, pedindo socorro, vindas de todas as partes da igreja, o que será? Estou ficando com medo!. Não é nada não, filho, isto é coisa da sua cabeça, você tem trabalhado muito, vou lhe dar umas férias, e, quando você voltar pro trabalho, verá que foi tudo da sua imaginação!. Constantino não deu muito crédito às palavras do sacerdote, mas resolveu seguir os seus conselhos. E assim, de volta das férias, Constantino voltou à labuta mais revigorado. Na primeira semana não lhe aconteceu nada, no entanto, num dia chuvoso, Constantino, enquanto limpava a imagem de Nossa Senhora da Piedade, ouviu: Me tire daqui, me tire daqui... Desta vez, a voz estava mais forte e muito aflita. Com tamanho susto, Constantino largou o que estava fazendo, e saiu correndo até a casa paroquial. Padre Rafael se assustou, ao vê-lo transtornado, correu na cozinha e lhe deu um copo d'água para se acalmar: Padre, desta vez a voz foi mais forte, eu acho que estou ficando louco, não sei o que fazer!. Calma, calma, tudo tem solução, vou chamar o Doutor Francisco. Já mais tranquilo, Constantino se manifestou: Doutor, o que eu tenho?. Nada, tome este remédio, você vai melhorar!. E assim, Constantino se recuperou rapidinho, e voltou a trabalhar com afinco. O tempo passou, e como o Constantino, alguns fieis começaram também a ouvir a voz na igreja. Sabendo disso, Constantino viu que não era só ele e, deste modo, se aquietou, mas o padre começou a ficar muito preocupado, e decidiu por conta própria, desvendar este mistério, e assim, até Centros Espíritas e Terreiros de Umbanda andou frequentando, escondido dos fieis, mas nada. A  cidade inteira ficou sabendo de tudo, e a Matriz ganhou a fama de mal assombrada, até num dia que um professor de História aposentado resolveu voltar pra sua terrinha. E deste modo, logo logo se inteirou do caso sem solução, e resolveu ajudar, e, a primeira coisa que fez foi pedir permissão pra ter acesso aos livros mais antigos da igreja. Com o aval do pároco, o historiador começou a estudar antigos manuscritos. O trabalho foi bastante árduo, até que um dia, Eureca!, uma pista surgiu, e, imediatamente mandou o padre arrumar  um pedreiro, o sacerdote não entendeu nada, mas acatou a ordem recebida, e, com o consentimento do Bispo Dom Avelar, o professor foi até o lado esquerdo do altar-mor, e mandou abrir a parede com o cuidado de um arqueólogo meticuloso pra não afetar o que estava dentro dela. Ao lado do professor, estavam o padre, o Constantino e alguns fieis pra não criar tumulto. Desta maneira, o pedreiro continuou o seu trabalho sob a orientação do professor até que num dado momento bateu com a pazinha em algo mais duro, e, terminando o trabalho, todo mundo ficou petrificado com o que viu, ou seja, um esqueleto humano inteirinho, certamente o de um escravo.

NOTA: Os mais velhos contam que depois disso ninguém ouviu mais a voz pedindo socorro, e que o Padre Rafael celebrou uma Missa, com o, digo, esqueleto presente, pela alma do pobre escravo que foi emparedado vivo. A maldade humana não tem limite, e o pior, tem muita gente ruim que, no lugar do coração tem uma pedra.

AWF 2022

segunda-feira, 20 de junho de 2022

DE COMO ALCEBÍADES, COVEIRO E ZELADOR DO CEMITÉRIO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO, SURPREENDEU A SUA COMUNIDADE, REVELANDO A SUA VERDADEIRA IDENTIDADE.



Recém chegado no arraial, Alcebíades trabalhava no Cemitério da Igreja Nossa Senhora da Conceição, como zelador e coveiro. Este lugarejo era bem pequeno, e, dizem que no século XIX, fora uma vila que tinha jornal, O Lutador, e até Padre com Casa Paroquial, além de muitas histórias estranhas envolvendo mortos. Sendo assim, Alcebíades pegava no trabalho de manhãzinha e ia até a tardinha, no momento exato, em que o Sol descia atrás do Mar de Morros, que envolvia toda a região, causando assim uma boa vista, que encantava a todos, principalmente aqueles e aquelas que valorizavam o hábito de prestar a atenção nas coisas produzidas pela Mãe Natura. Sem dúvida, era realmente um lugar muito pacato, porém, não se sabe como, barulhos estranhos no Campo Santo, a partir das 3 horas até às 4 da madrugada, começaram a assustar o povoado. Era a chamada, Hora Morta pelos místicos e supersticiosos, pois tratava-se de um momento que nos torna mais vulneráveis a ações espirituais, por causa da Glândula Pineal, situada no centro do cérebro, que nesta hora se abre para o Outro Mundo. Enquanto isto os barulhos estranhos continuaram a provocar muito pavor e, isso começou a fazer mal ao Alcebíades, um homem bom e prestativo, que passou a se sentir culpado, porque nada acontecia com ele, pois dormia como uma pedra. No entanto, inconsolado, ele resolveu investigar o que estava acontecendo, e para isso, resolveu passar a noite dentro da Capelinha Mortuária, para constatar qualquer coisa além do normal, entre as tumbas silenciosas, quase invisíveis na escuridão noturna. Infelizmente, o Alcebíades não desvendou nada, porque sempre acabava dormindo, e, para piorar, as pessoas continuaram a reclamar do instante sinistro das 3 horas, o qual não deixava ninguém dormir direito. O ruim era que a situação funesta sempre se repetia, tornando Alcebíades ainda mais infeliz, e, sem saber o que fazer, continuava a se sentir o responsável de tudo o que estava acontecendo, com aquela pobre gente, até porque, anos se passavam, e a história continuava a mesma, e, ele não tinha a menor dúvida que a danação era por causa dele, causando-lhe, então, uma tristeza profunda, por não poder fazer nada. Mediante a tudo isso, numa tarde ensolarada, do nada surgiu um homem na localidade que se manifestou como Padre Ismael, dizendo que queria celebrar uma Missa na Matriz, e fazer uma Homilia (discurso ao povo), com a permissão do pároco local, porque tinha algo muito importante a proferir para aquela gente sofrida. E assim, com este argumento, a notícia se espalhou como um raio, tanto assim, que no dia da Missa, o templo estava lotado, com o Alcebíades sentado no primeiro banco. E a partir daí, tudo era expectativa, e, chegada a hora, o estranho Sacerdote no Altar de Deus começou a rezar a Santa Missa, com a ajuda do Pe. Vinicius, pároco da pequena comunidade. Desta feita, tudo corria tranquilo até na hora em que todo  mundo se assentou para ouvir a Homilia do desconhecido Ministro de Deus, a qual foi introduzida assim, Irmãos e irmãs, eu vou ser breve, pois é, vocês sabem que o Todo Poderoso não gosta de ninguém contrariando suas ordens, porque deste modo, as forças do mal começam a se manifestarem perigosamente, e, muitas das vezes, o castigo não cai só no algoz, cai também na vítima, mesmo sendo inocente, portanto, antes de praticar uma maldade, devemos pensar nos outros. E assim, num dado momento da prática, o enigmático Sacerdote fez uma pausa prolongada, e depois, olhando pro Alcebíades, disse, Filho, venha até o altar!. E virando pros fieis, falou em voz alta, Vejam!, o Alcebíades, neste ápice, não sabe ainda quem é realmente, o Senhor apagou a sua memória, como castigo. Pois é, ao pronunciar o nome do rapaz, todo mundo se assustou num sussurro só, Como ele conhecia o Alcebíades?. Depois do grande reboliço, Pe. Ismael continuou, Alcebíades, o seu nome verdadeiro é Samuel, sua penitência acabou, e eu estou aqui, em nome de Deus, pra resgatá-lo!. Falando desta maneira, deu-lhe um forte abraço, e, milagrosamente, um par de asas angelicais brancas e enormes surgiram em cada um, e alçando voo imediatamente, atravessando o teto da igreja, e, neste ínterim, os do lado de fora da Casa Santa testemunharam um resplandecente facho de luz, saindo de cima da dita cuja, em direção ao Céu coberto de Estrelas reluzentes

NOTA: Até hoje, nesta localidade da Zona da Mata Mineira, os mais velhos contam que os fieis ficaram paralisados no recinto sagrado, devido a visão angelical, por um bom tempo, saindo depois todos numa excitação extrema pra suas casas. Depois desta feita, a comunidade nunca mais acordou às 3 horas da madrugada, tornando-se, assim, muito feliz por ter colaborada, mesmo sem saber, com o resgate de um Anjo Caído.

AWF 2022

sexta-feira, 17 de junho de 2022

DE COMO UMA MENININHA NEGRA DE 5 ANOS DEIXOU EM POLVOROSA UMA CIDADEZINHA MINEIRA NO SÉCULO XIX EM PLENO GOVERNO DE D. PEDRO II.

 


Numa pequena cidade do interior de Minas, cujo nome não me lembro, tem uma lenda intrigante. Trata-se de uma menina negra de 5 anos, que aparecia toda de branco na igreja matriz durante a missa.
Conta a lenda que isso aconteceu por volta de 1879, na época do Padre Eustáquio, homem bom e muito querido na paróquia.
Então, essa criança começou a surgir só pro sacerdote, durante a Consagração da Hóstia, na hora em que os fiéis abaixavam a cabeça. Sua aparição era sempre na porta principal do templo.
Quando ela aparecia, esboçava um sorriso triste, depois subia correndo a escada que dava pra área do coral, indo em direção à torre do sino.
No início, Padre Eustáquio não contou nada pra ninguém, todavia, isso começou a perturbá-lo de tal modo, que acabou relatando tudo pros seus paroquianos, e, a partir daí, todo mundo ficou atento, mas ninguém via nada, somente o pároco.
Certa vez, o padre pediu pro sacristão ficar na torre do sino, esperando pela garotinha, e mesmo assim, não deu certo.
Acontece que o pessoal da cidade começou a ficar muito agitado com essa situação e, pra piorar, a presença de muita gente das cidade vizinhas se transformou numa enorme preocupação para o Alcaide.
Padre Eustáquio, por sua vez, resolveu contar pro Bispo Diocesano Dom Gerardo, e assim, surgiu a ideia de enviar outro padre, quem sabe, talvez ela só aparece para um Ministro de Deus. Infelizmente não deu certo e o problema continuou se agravando cada vez mais. Já não podia entrar mais ninguém na cidade, faltava alimento e lugar para as pessoas pernoitarem. Muitos soldados foram deslocados para a cidade pelo Governo Imperial para manter a ordem.
Mediante a tudo isso, Padre Eustáquio adoeceu e ficou pra morrer. Deste modo, a menina parou de aparecer durante as missas celebradas por outros padres. A cidade começou a voltar ao seu normal, Muita gente já nem falava mais sobre a aparição da menininha.
Conta-se que Pe. Eustáquio se recuperou milagrosamente e pediu ao Bispo que o transferisse pra outra paróquia, mas antes, iria celebrar a última missa, como agradecimento aos seus paroquianos. Muitos tentaram tirar esta ideia da cabeça dele, todavia, ele foi categórico: Com a menina ou não, vou celebrar esta missa!. E assim cumpriu o seu desejo.
Os mais antigos falam que esta história era muito contada pelos seus avós. Segundo eles, nessa missa de despedida, no momento da Consagração, Pe. Eustáquio teve uma ataque do coração fulminante, e caiu de bruços no altar, e, nesse instante aterrorizador, todo mundo na igreja viu uma menina negra, toda de branco, entrando pela porta principal, sorrindo e correndo em direção ao corpo já sem vida do sacerdote, desaparecendo logo em seguida.
Pois é, o que aconteceu depois, fica por conta da sua imaginação.
NOTA: Alcaide era o nome do que hoje chamamos de Prefeito, tinha poderes limitados, no tempo do Imperador D. Pedro II.

Anibal Werneck de Freitas, em 06.06.2022.

ORATIO AD SANCTO EXPEDITO