sábado, 30 de julho de 2022

DE COMO O MÚSICO EDUARDO HENRIQUES CONSEGUIU TOCAR AO VIVO NUM CASAMENTO FEITO PELO PADRE HIGINO EM CONCEIÇÃO DA BOA VISTA-MG.

1974, Silvério contratou seu amigo, Eduardo Henriques, músico de mão cheia, de Cataguases-MG, pra tocar no seu casamento, em Conceição da Boa Vista, distrito de Recreio-MG. A cerimônia do casório seria regida pelo padre Higino Latteck, um homem bom, mas muito radical no que fazia, e estava sempre acompanhado de um temperamento muito forte. Uma vez, uma mulher entrou com uma saia curta na Casa de Deus, e, ao vê-la deste jeito, parou a missa, e vociferou, Você não pode ficar aqui vestida assim, vá pra casa e troque a sua roupa por uma mais decente!. Nascido em Insterburg, na Alemanha, em 31 de março de 1905, Padre Higino fugiu pro Brasil, devido à perseguição nazista ferrenha, no seu país, e sendo assim, em 1948, foi enviado pela Diocese de Leopoldina para a Paróquia, Menino Deus, de Recreio, MG. Apesar de ranzinza, ele era um homem muito corajoso, demonstrando isso na tromba d'água de Abaíba, onde salvou muita gente. O padre higino foi pároco em Recreio, duas vezes, de 1948 a 1955, e depois, de 1973 a 1983, ano em que faleceu. Assim como eu, o escriba deste texto, muitos foram batizados e casados por ele, e, o interessante foi quando lhe mostrei o meu batistério, pra poder casar, ele olhou pra mim e sorriu, dizendo, O seu Batistério é o original!. Graças à minha mãe, que o tinha guardado, com muito cuidado. Pois é, o padre Higino era, também, muito brincalhão, porque todas as vezes que encontrava com o meu pai, que tinha o sobrenome Higyno, brincava, E aí parente, tudo bem?. Voltando ao assunto do casamento, o músico, Eduardo Henriques, pegou o seu equipamento de som e rumou pra Conceição da Boa Vista, afim de tocar no enlace do Silvério, na Igreja Nossa Senhora da Conceição, onde armou a sua aparelhagem musical, perto do altar. A igreja já estava cheia, com os convidados, os padrinhos, as madrinhas e o noivo esperando pela noiva, e, quando o padre Higino saiu da sacristia em direção ao altar, viu o microfone e o teclado, e já foi logo esbravejando, Eu não quero música ao vivo na minha igreja!. O sacristão ao ver o sacerdote zangado, foi até o músico e falou baixinho no seu ouvido, Vá pro coral da igreja, porque lá encima tem um quartinho pra você tocar meio escondido, o padre Higino, devido à sua idade, não está mais enxergando bem de longe, faça isso e deixa o resto comigo. E assim foi feito tudo muito rápido, porque a noiva já estava chegando de carro. Apesar do quartinho apertado e cheio de teia de aranha, Eduardo conseguiu tocar na entrada da noiva, mas antes de começar a cerimônia, o padre Higino, mais uma vez, interrompeu a cerimônia, e gritou, Eu já falei que não quero música ao vivo, fui claro?. Conforme o combinado com o músico, o sacristão conseguiu aquietar o padre, respondendo, Padre, não é música ao vivo, é um disco na eletrola. Como ele não estava mais enxergando direito, prosseguiu o casamento até que notou duas madrinhas e algumas mulheres no banco da frente, usando roupas decotadas, e, deste modo, não deu outra, Saiam da igreja, aqui é a Casa do Senhor, e ele não admite pouca vergonha!. Constrangidas, as mulheres foram para o lado de fora do templo, indignadas, muito tristes por não poderem ver o casório. Do lado de fora do templo, uma delas viu, no terreiro de uma casa, um enorme varal de fraldas secando, porque naquela época, as descartáveis não eram comuns, e assim, uma das mulheres, disse, Eureka!, eu tenho uma ideia genial!, já sei o que vamos fazer!. E, desta maneira, foram até a lavadeira, Minha senhora, desculpe-nos por entrarmos assim no seu quintal, é que estamos com um problemão, e a senhora pode nos ajudar. A princípio, a mulher relutou, mas acabou cedendo, Tudo bem, mas depois me devolvam!. Pode parecer mentira, as mulheres com as fraudas tapando os ombros e os seios, não causaram mais nenhum problema, e o Silvério e a noiva puderam casar em paz.


NOTA: este casamento ocorreu realmente em Conceição da Boa Vista, e foi contado pelo próprio Eduardo Henriques.

Anibal Werneck de Freitas, 2022.

segunda-feira, 11 de julho de 2022

DE COMO A JACIRA GOSTAVA SEMPRE DE ORNAMENTAR COM FLORES O ALTAR DA CAPELINHA, JUNTO À IMAGEM DE NOSSA SENHORA DA MATA.




Jacira gostava sempre de ornamentar com flores, o altar da capelinha, junto à imagem de Nossa Senhora da Mata, padroeira do lugar onde morava, ou seja, Piaçoca, um pequeno povoado, que ainda não tinha padre, porque este vinha duas vezes por mês para celebrar a missa, e se chamava Vicente. Pode ser mentira, mas a Jacira trocava a água das flores num jarro grande e transparente, duas vezes por dia, de manhã e de tarde, e isto chamava muito a atenção dos fieis. A água ia até na metade do recipiente totalmente cristalina, parecia um líquido de um outro mundo, porque não, espiritual. Este procedimento da Jacira era impecável e religiosamente cumprido. Ela era uma mulher solteira de 43 anos de idade, que nunca pensou em se casar, morando sozinha numa casa humilde, na periferia, desde quando seus pais morreram, vivendo então dos seus bonitos bordados, muito procurados em toda a vizinhança. Seu cotidiano era simplesmente tranquilo, ou seja, da casa pra igreja e da igreja pra casa, até que um dia, num domingo antes da missa, ela não apareceu pra trocar a água do jarro, e aí todo mundo estranhou, a preocupação foi tamanha que, no dia seguinte, o Faustino foi acionado pra elucidar o caso mas, infelizmente, voltou dizendo que não a tinha encontrado, e que a sua casa estava completamente escancarada. Com esta triste noticia, as pessoas procuraram-na por todos os cantos e nada da Jacira. O padre Vicente, consternado, pediu permissão ao Bispo pra ficar no lugarejo até encontrar a Jacira. Com o pedido aceito, tocou a celebrar uma missa todos os dias em prol da moça desaparecida, proibindo assim a troca da água, até no dia do seu aparecimento. E, deste modo, a água foi ficando turva e as flores murchando a cada dia que se passava. Foi um período muito ruim para aquela gente humilde, tanto assim que muitos ficaram até doentes. O Caso Jacira, como ficou conhecido em toda a região, fez com que os prefeitos das cidades vizinhas agilizassem uma Força Tarefa pra procurar a Jacira, que já era dada como morta. Quando tudo parecia não ter mais jeito, num domingo ensolarado, em Piaçoca, antes da missa, o padre Vicente, ao ver a jarra cheia de belíssimas flores, com uma água divinamente cristalina, vociferou, Quem trocou a água, sem a minha ordem?. Neste exato momento, a igreja ficou toda escura, em plena luz do dia, e uma voz delicada, respondeu, Fui eu, padre, a Jacira!. E deste modo, imediatamente o templo se iluminou, para o espanto de todos, e muitos, atônitos, saíram da igreja gritando, Eu vi a Jacira toda de branco, junto com a Virgem Maria! 

NOTA, Dizem que esta água divina foi retida num recipiente transparente, e se encontra na Capela de Nossa Senhora da Mata, pra todo mundo ver, e, o mais incrível é que anos e mais anos se passaram, e ela continua limpinha do mesmo jeito. Quanto a Jacira ninguém mais ficou sabendo do seu paradeiro. Este caso é fictício, mas pode acontecer, realmente!, Willian Shakespeare nos deixa bem claro, Há mais coisas no céu e na terra, Horácio, do que sonha a tua filosofia.. E agora?

Anibal Werneck de Freitas, 14.07.2022

ORATIO AD SANCTO EXPEDITO