quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

SEU GABRIEL / MINAS MINAI

era por volta das três horas da tarde, minha turma da quarta série ginasial: eu, fernando, luiz olímpio, dilano, josé luiz, josé venâncio e edgar bicalho estávamos assistindo a aula de latim do cônego naves, melhor dizendo, fazíamos um dever de sala num silêncio sepulcral, enquanto isso, o professor olhava perdidamente para o lado de fora do recinto através da porta que dava uma visão parcial do campo de futebol com um lado rodeado de árvores.
quem estudou no seminário naquela época sabe  que o regime era uma barra pesada, quase militar, nosso reitor era bastante severo, a hora do silêncio tinha que ser obedecida à risca, e coitado daquele que o transgredisse.
voltando ao assunto, o seminário era um silêncio só, o pe. antonio chamel estava sempre passando pelo imenso corredor, lendo  o seu breviário, mas atento o tempo todo, deste modo, executávamos o dever de latim quando, de súbito, o cônego naves deu uma gargalhada homérica, apontando o dedo em direção ao campo de futebol, o motivo da risada foi o seu gabriel [um empregado franzino, já idoso, que cuidava da poda das árvores e de outros afazeres da limpeza] que, ao puxar um galho, este se partiu e o pobre homem caiu sentado numa posição hilária, pois é, com a gargalhada do cônego, todos os outros seminaristas das demais salas, no mesmo tempo que a gente, correram para o corredor, numa balbúrdia, pra ver o seu gabriel sentado no chão ainda com o galho nas mãos, totalmente sem graça, porque era um homem sério, mas, assim que o reitor apareceu no corredor, com os olhos esbugalhados, fez-se de novo um silêncio absoluto e todos os seminaristas voltaram para as sua salas.
neste dia o pe. antonio não disse nada, deu-nos as costas e eu tenho pra mim que ele saiu rindo baixinho para o seu quarto, pois vira, também, o seu gabriel com cara de tacho, sentado no chão de maneira bastante jocosa, segurando o ramo que o derrubara e sem saber o que fazer, devido ao enorme susto que levou.

anibal werneck de freitas, passou a escrever mais com as letras minúsculas para evitar a fadiga.



MINAS, MINAI! (Anibal Werneck de Freitas) Do alto do morro / Uma igreja do século XVIII / Confirma o passado. / Quantas vidas , / Quantas mortes / Passaram por aquelas pedras / De um tempo pisado. / Vale a pena viver? / Vale a pena a morrer? / O silêncio é a única resposta? / As casas antigas ficaram / Como se quisessem deixar / Seus fantasmas à mostra. / Minas Gerais, / Respeite seus mortos! / Minas Gerais, / Busque seu mar! / Minas Gerais, / Solte seus portos! / Minas Gerais, / Respire seu ar! / Minas, minai! / Minas, minai! / Minas, minai! / Minas, minai!

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ORATIO AD SANCTO EXPEDITO