sábado, 12 de abril de 2014

ANOS DE CHUMBO

Lembro-me muito bem das charges do Jango, Presidente da República, que eu recortava dum jornal, cujo nome não me lembro, e, as colocava no mural que tinha no seminário, feito para os seminaristas se manifestarem. Naquela época, a gente, apesar de isolados do mundo, sentia que a barra estava pesada do lado de fora. Se não me engano, dentro do dormitório dos maiores, o Paulo César bastante nervoso olhou pra gente e disse, Uma revolução vai acontecer, os militares estão querendo tirar o Jango da presidência e do jeito em que as coisas estão, nós vamos ser mandados para as nossas casas até as coisas se acalmarem. Isto realmente assustou todo mundo. Infelizmente, o Golpe Militar aconteceu, mas nenhum seminarista foi pra casa. A causa do golpe foi uma mentira muito grande, forjada pela elite embasada no ridículo movimento T.F.P [Tradição, Família e Propriedade], apoiado pela ala conservadorista da Igreja e de alguns generais retrógrados das Forças Armadas, mencionando que os comunistas iriam tomar o Brasil. Nem a própria U.R.S.S. [União das Repúblicas Socialistas Soviéticas] sabia disso. Os Estados Unidos estavam por trás desta situação que acabou se alastrando para o Chile, Argentina e Uruguai. Muita gente perdeu a vida e foi torturada depois disso. A nefasta ocupação indevida dos militares através de um Governo Ilegal perdurou de 1964 a 1985, e até hoje ficou tudo por isso mesmo, só no Brasil.
Naquela ocasião, haviam padres da Diocese de Leopoldina, contrários à ditadura militar, cujos nomes não vou citar, e, que foram obrigados a depor no DOPS. Foi realmente o pior momento da nossa História. Os Dominicanos, por exemplo, foram os que mais sofreram. O Delegado do DOPS, Fleuri, ficou famoso através das suas façanhas cadavéricas como torturador e líder do Esquadrão da Morte que exterminou muita gente da esquerda. 
Jango poderia ter revidado, mas preferiu fugir para evitar uma guerra civil, digo isso, porque três generais estavam do seu lado, com muito mais soldados e bem armados para combater os soldadinhos de chumbo do Mourão que saíram da provinciana Juiz de Fora [que continua assim até hoje], com o objetivo de depor o Presidente, todavia, o problema maior, era a presença de um maldito porta-aviões americano estacionado em nossas águas, pronto para intervir a favor da direita capitalista. Estávamos vivendo o auge da Guerra Fria, o mundo estava dividido em dois blocos, um, Capitalista e o outro, Comunista. A ameaça comunista foi uma desculpa esfarrapada, o motivo verdadeiro era o povo que estava se politizando de uma maneira bem solidificada. Jango nem comunista era, sua vontade era fazer reformas, como a agrária que até hoje continua só no papel. Se a História fosse outra, o país estaria muito melhor nos dias de hoje. Não teríamos ninguém falando a besteira de que tem saudades do tempo dos militares. 
Em 1965, saí do seminário e vi que a nação estava mergulhada num silêncio sepulcral, ninguém podia abrir a boca, a censura comia quente, o Roberto Carlos estava mandando todo mundo pro Inferno, acontece, que a gente já estava nele. Depois do AI-5, a coisa fedeu mais ainda. Eu me recordo que fui obrigado, em 1971, a levar todas as letras, do I Festival de Música de Recreio, promovido pelo O Jornal de Recreio, para o DOPS [Departamento de Ordem Política e Social], de Juiz de Fora e sete, delas, foram censuradas, inclusive uma de minha autoria. Havia alcaguete por todos os cantos, foi realmente uma lástima. Você estava sendo vigiado o tempo todo. 
Voltando ao ano de 1964, as charges que eu colocava no mural criticavam muito o Jango, porque a Imprensa sempre foi da direita,
como é até hoje, graças aos militares e por estar nas mãos de famílias poderosas. Aliás, piorou, porque, agora, está fazendo uma oposição ferrenha ao Governo Dilma, não sou petista e muito menos tucano, mas a imprensa tem que ser neutra, a coisa está, como dizia, o Geraldinho, O Brasil continua na mesma toada!

anibal werneck de freitas. 

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