domingo, 28 de setembro de 2014

CONFIAR, DESCONFIANDO

Antônio Carlos Roxo

Neste tempo de eleição todo cuidado é pouco. Pipocam notícias as mais tendenciosas. Sobre tudo e sobre todos. Antes do início do período eleitoral propriamente dito, já havia a preparação do terreno e a tentativa de colocar o governo atual na parede. O objetivo era claramente pautar a opinião pública sobre certos cânones do conservadorismo. Recentemente reportagem da FSP focava a invasão da Argentina pela China. Financiando o governo, criando empresas, abrindo ferrovias. Com isto a China avança célere na ocupação econômica da Argentina, sendo hoje o seu segundo maior parceiro comercial. A reportagem cita que o Brasil se esforça para se contrapor e que o Mercosul serve de anteparo à invasão anunciada. Todos os atores relevantes do mundo procuram “ocupar”, através de financiamento e obras, países que sejam de seu interesse, para através desta engrenagem gerar negócios. A estratégia da China, que avança em nosso quintal, é enaltecida pela reportagem. Aspecto a ser ressaltado, o Mercosul é projeto de interesse nacional, apesar da insistente campanha para retaliarmos a Argentina por medidas tomadas pelo seu governo, como se fosse um jogo de futebol em que por tradição (besta por sinal) tenhamos que torcer contra a Argentina. Sendo que o Brasil e, em particular São Paulo, a tem como o principal mercado para seus produtos industriais. No contraponto, na campanha eleitoral se crítica o financiamento pelo BNDES do Porto de Cuba, que está sendo construído por empresas brasileiras, projeto brasileiro, o que é o suprassumo do comércio internacional, vender serviços. Ainda mais para o Brasil, que ultimamente tem se fixado em exportar commodities. Quando há oportunidade como esta, os de visão curta questionam. Abre-se espaço que o próprio EUA quer e estão se preparando para ocupar. A Petrobras, a joia da coroa, motivo de cobiça das aves de rapina internacionais e nacionais, tem sua gestão questionada. Sou também contra o uso do preço da gasolina como mecanismo de combate à inflação (a empresa importa a um preço mais alto que o preço de venda interno). Mas devagar com o andor que o santo é de barro! A Petrobras, ainda assim, é extremamente produtiva e lucrativa. Fala-se que perdeu valor de mercado. Como de fato, mas não por ser estatal. É o momento econômico. O quadro abaixo mostra a cotação das ações de quatro grandes empresas brasileiras em dois momentos.
Ação Preço da ação


PETROBRAS PN 26,30 21,15 -19,58 / GERDAU PN 22,61 12,15 -46,26 / CSN 28,20 9,18 -67,45 / VALE PN 44,66 23,74 -46,84, fechamento 24/09/2010, Preço da ação fechamento 26/09/2014.

A evolução, em quatro anos, mostra que empresas privatizadas e comandadas por capitães da indústria como Benjamim Steinbruch (CSN) atual presidente da FIESP, ou Jorge Gerdau Johanpeter (GERDAU) e a VALE apresentaram, no período, uma performance muito pior que a Petrobrás. E agora? Má gestão, má vontade ou interesses outros?

Antônio Carlos Roxo, economista pela UFJF, mestre pela UFMG, doutor pela USP, é coordenador do curso de Comércio Exterior e Negócios Internacionais e membro fundador do Grupo de Estudos de Comércio Exterior e Relações Internacionais do UNIFIEO – GECEU. É membro fundador, também, do CICERO – Comitê de Incentivo ao Comércio Exterior da Região Oeste.

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