"A ELITE BRASILEIRA NÃO ACEITA A INCLUSÃO SOCIAL,
TOLERA!”
[Martinho Condini]
Apesar da Casa-Grande de Gilberto Freire ter sido
construída em 1933, ela continua com seus alicerces firmes, principalmente no
sudeste e sul do nosso Brasil. As vésperas da abolição da escravatura, muitas
pessoas não se conformavam com a possibilidade dos negros escravos ficarem
livres e poderem viver como todos os outros brasileiros brancos.
Era difícil para a elite brasileira entender que todo ser
humano tem o direito de ser livre,
constituir sua família, ter sua moradia (e não a
senzala), trabalhar como um cidadão livre e cumprir com seus deveres e
desfrutar dos seus direitos sociais.
Mas mesmo assim, a sociedade escravagista brasileira
resistiu até onde pode para a manutenção da escravidão (foram mais de trezentos
anos), fomos o último país da América a libertar os escravos.
A história nos mostra que a resistência incansável dos
negros, desde o século XVI e o movimento abolicionista a partir do século XIX,
conquistaram esse direito a liberdade.
A elite escravagista brasileira para desqualificar todo o
processo de luta, estabeleceu que a influência britânica devido aos interesses
econômicos e a consciência social e política da princesa Isabel (filha de Dom
Pedro II) foram aspectos mais preponderantes para o fim da escravidão no
Brasil.
Por muitos anos esse foi o entendimento do processo de
libertação dos escravos passado a gerações de brasileiros em nossos bancos
escolares. Após 126 anos da abolição da escravatura e muita lutas das classes
populares, temos um Brasil livre e democrático, mas com problemas sociais ainda
presentes em nossa sociedade.
Mas é verdade que algumas políticas sociais adotadas nos
últimos doze anos, fizeram com que classes sociais brasileiras que viviam em
condições sub-humanas tivessem mudanças
significativas em suas vidas. Estas pessoas não foram
beneficiadas pela assinatura de uma lei que os libertassem da escravidão, mas
sim, por processo político voltado para as classes sociais discriminadas e
excluídas do nosso país. As políticas
públicas adotas nestes últimos anos possibilitou a milhares de brasileiros
resgatar a sua dignidade e a sua cidadania. Sabemos que milhares de famílias,
jovens e adultos, se beneficiaram com a criação do ‘Bolsa-Família’, para sair
da condição de miseráveis; a criação do projeto ‘Minha Casa Minha Vida’, para
realizar o sonho da casa própria e dos projetos Porém, guardada as devidas
proporções devido às diferenças de épocas da nossa história, continuamos a ter
em nossa sociedade uma visão de que o acesso as boas condições de vida é apenas
para uma minoria, uma elite que tem profundas dificuldades para enxergar com
bom olhos a ascensão das classes excluídas da
sociedade.
E quantas vezes ouvimos (até mesmo em sala de
professores) o ‘educador’ dizer assim: “o que esse aluno da periferia vem fazer
na universidade, ele não tem cultura”; ou “precisaria separar a parte boa do
país (Sul e Sudeste) da parte ruim (Norte e nordeste)”.
Então, deixo uma pergunta para reflexão, como discutir bolsa
família, política de cotas sociais ou raciais ou políticas educacionais para o
acesso as universidades, num país em que o modo de produção escravista foi o
mais extenso de sua história de quinhentos e quatorze anos?
*Martinho Condini, mestre em Ciências da Religião e
doutor em Educação, pela PUCSP. É professor na rede privada no ensino superior
nas cidades de Osasco e São Paulo. Apresenta na rádio 9 de Julho de São Paulo o
programa ‘Aumenta o volume que lá vem história’. Publicou pela Paulus os livros
Dom Helder Camara um modelo de esperança (2008); Helder Camara, um nordestino
cidadão do mundo (2011) em parceria com Ilvana Bulla e o DVD Educar para a
liberdade Dom Helder Camara e Paulo Freire (2011). Fundamentos para uma
educação libertadora Dom Helder Camara e Paulo Freire (2014) Membro do Grupo de
Estudos de Comércio Exterior e Relações Internacionais do Unifieo - GECEU.
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