Armando Mercadante - Como e quando surgiu a ideia da criação do personagem Tucanlino? Você
se inspirou em algum outro personagem?
Anibal Werneck - O Tucanlino foi inspirado no
personagem Zé Carioca do Walt Disney, no início ele tinha um chapéu parecido
com o do malandro do Rio de Janeiro.
Armando Mercadante - O Feola [Zé Luiz], salvo engano, disse "o Anibal do Tucanlino". Significa que ele marcou. Como ele era divulgado no Seminário (mimeógrafo, mural, cópias)? Era folhetim, revistinha, enfim, qual o nome?
Anibal Werneck - Pelo visto o personagem sobrepujou
o autor, de tão forte que ele era e continua sendo até hoje, o Tucanlino era
divulgado através do original que passava de mão em mão, alguns professores
acabavam ficando com o exemplar pois não o devolviam. Já faz um certo tempo, eu estava numa fila do
Banco do Brasil em Leopoldina, uma mulher se aproximou de mim e disse, Eu estou
lhe conhecendo, você estudou no Seminário, você era aquele que fazia umas
revistas em quadrinhos, eu tenho uma lá em casa, eu a guardei com muito carinho,
fui professora por uns dias no seminário, gostei tanto da revista do Tucanlino
que acabei ficando com ela, você é o Anibal se não me engano. Eu confirmei e
agradeci e fiquei surpreso, não sabia que o Tucanlino era tão forte assim, ao
ponto de marcar as pessoas.
Armando Mercadante - O Tucanlino era censurado antes de ser divulgado ou circulava sem o conhecimento do Reitor?
Anibal Werneck - Engraçado, o Tucanlino nunca
foi censurado, tinha um mural onde eu colocava também umas charges que eu
tirava dos jornais, cujas charges criticavam o então Presidente da República
João Goulart e junto colocava os quadrinhos do Tucanlino com suas histórias
bastantes ingênuas, talvez por isso não sofria nenhuma censura, o Tucanlino era
um detetive, tipo Sherlock Homes, porque no refeitório durante o jantar o
livro, O Cão dos Baskervilles de Sir Arthur Conan Doyle era lido e muito me
impressionou.
Armando Mercadante - A turma dava sugestões?
Anibal Werneck - Que eu saiba não, as histórias saiam do papel em branco, uma vez, o Monsenhor Chamel me contou que ficou um tempão atrás de mim vendo eu desenhar o Tucanalino durante um dos estudos que nós fazíamos todos os dias, em silêncio ele ficou e em silêncio ele saiu e eu nem notei de tão imbuído que eu estava no desenho.
Armando Mercadante - Você levou alguma bronca por causa do personagem?
Anibal Werneck - Nunca, eu acho que o Padre
Antônio na época gostava muito do Tucanlino, na verdade eu só pensava em desenhar
o personagem, eu me lembro certa vez em que eu estava jogando bola contra um
time visitante e durante toda a partida eu estava só pensando no Tucanlino.
Armando Mercadante - Você passou 4 anos no seminário. Foram 4 anos de Tucanlino?
Anibal Werneck - Não, foram 5 anos. Porque eu
tomei pau na sétima série em matemática com o Padre Antônio, o Tucanlino,
infelizmente, me atrapalhou muito, eu não estudava direito, tanto assim que
mesmo repetindo a série fiquei em segunda época na mesma matéria, fui para as
férias e em Recreio, estudei com o Engenheiro Blanor, filho do Seu Amaury
sapateiro, e ele conseguiu me enfiar na cabeça a intrincada matemática das
equações e assim, tirei um 10 limpinho com o Padre Antonio que até hoje ainda se
lembra, eu não sabia nada e na prova com ele perto eu tirei um dez limpinho,
devo isso ao Blanor, excelente professor.
Armando Mercadante - Sua avaliação do personagem.
Anibal Werneck - O Tucanlino em 1970 me levou a
um esgotamento nervoso tamanho que acabei tendo um colapso nervoso, depois
disso parei de desenhá-lo, não o considero um personagem original, todavia, me
impressiono com a sua força, tanto assim que até hoje eu o desenho nos meus
blogs, o Julinho (in memoriam) sempre me chamava de Tucanlino, tamanha a força
do personagem, isso realmente eu não posso negar.
*Abaixo uma das histórias em quadrinhos do Tucanlino desenhada no tempo do seminário:
TUCANLINO em CONFUSÕES NA ILHA VERDE
Estes
foram os primeiros quadrinhos que desenhei, no estilo Walt Disney, foi
em 1963, na cidade de Leopoldina(MG), onde nasceu o personagem, o
desenho foi feito a nanquim e colorido a lápis de cor, imagine o
trabalho que dava, mas eu gostava muito de fazer os quadrinhos, não
pensava em outra coisa.
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