Após a infância e a adolescência, ambos tiveram rumos
profissionais diferentes: um tornou-se religioso, o outro, após a formação em
Direito, enveredou para a área educacional como professor de língua portuguesa
e, posteriormente, tornou-se também um educador.
No início do Governo Militar, ambos viviam na cidade de
Recife. Um recém-chegado, transferido da cidade do Rio de Janeiro o outro vivia
em sua cidade natal. Em 1964, um deles foi preso e exilado, retornando ao
Brasil apenas em 1980. No exílio, produziu todo o arcabouço daquilo que mais tarde
veio a ser considerado uma filosofia e um método educacional. E somado a uma experiência
de alfabetização de adultos, produziu uma obra que norteou o seu trabalho como
educador, a Pedagogia do oprimido, escrita no exílio.
O outro, arcebispo de Olinda e Recife, idealizador e fundador
da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, tornou-se uma liderança da Igreja
católica, permaneceu no Brasil durante todo o governo militar, mas sofreu intensa
perseguição e censura dos militares e da ala conservadora da igreja, sendo
impedido por quatro vezes de receber o prêmio Nobel da Paz e foi calado por
quase uma década. As perseguições a ambos fizeram com que suas vozes e ideias
ecoassem Brasil a fora, e os mesmos ficassem conhecidos mundialmente.
É inegável que ambos tiveram intensa influência na
formação do pensamento educacional e social brasileiro. Realizaram trabalhos
que contribuíram no meio intelectual, como também nas camadas populares da
sociedade. Eles sempre tiveram a coragem de enfrentar desafios e propor mudanças
para a melhoria das condições de vida das camadas sociais excluídas e
descriminadas do nosso país. A defesa e o cumprimento aos direitos humanos foi
uma bandeira carregada diuturnamente, por esses dois incansáveis humanistas. E
reconheceram na educação um dos principais elementos para as pessoas realizarem
as transformações sociais e a conquista da tão sonhada libertação.
Enfim, apesar da distância física de ambos, sempre
estiveram juntos na esperança de que era possível construir uma sociedade mais
justa, digna e fraterna para todos.
Caros Dom Helder Camara e Paulo Freire, vocês estarão
sempre em minha lembrança.
*Martinho Condini, mestre
em Ciências da Religião e doutor em Educação, pela PUCSP. É professor na rede privada
no ensino superior nas cidades de Osasco e São Paulo. Apresenta na rádio 9 de
Julho de São Paulo o programa ‘Aumenta o volume que lá vem história’. Publicou
pela Paulus os livros Dom Helder Camara um modelo de esperança (2008); Helder
Camara, um nordestino cidadão do mundo (2011) em parceria com Ilvana Bulla e o
DVD Educar para a
liberdade Dom Helder Camara
e Paulo Freire (2011). Membro do Grupo de Estudos de
Comércio Exterior e
Relações Internacionais do Unifieo - GECEU.
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